Saúde
PUBLICIDADE

Por Jessica Mouzo, El País

A dor nas costas é uma das mais frequentes. Um estudo publicado na revista The Lancet Rheumatology sobre a prevalência dessa patologia, estima que mais de 600 milhões de pessoas padeceram dela no mundo em 2020 e sugere que em 30 anos serão mais de 800 milhões afetados. Os autores apontam o tabagismo, a má postura no trabalho e a obesidade como principais fatores de risco para essa doença, que já é — e pretende continuar sendo — a principal causa de incapacidade.

A lombalgia é aquele desconforto mais ou menos intenso na região lombar, “entre a décima segunda costela e as pregas glúteas e que dura um dia ou mais”, definem os autores do estudo. Segundo Marcos Paulino, presidente da Sociedade Espanhola de Reumatologia, que não participou do estudo, aponta que a pesquisa descreve o que os médicos estão acostumados a ver em consultório.

— É uma epidemia, algo muito frequente. E é uma patologia difícil de prevenir porque, mesmo que se recomende exercício físico, ter um bom peso e evitar más posturas, há 60% de lombalgias que não têm explicação. Apenas 40% são evitáveis — afirma.

Na revisão sistemática, pesquisadores de várias nacionalidades usaram informações do Global Burden of Disease (GBD) Study 2021 — uma grande investigação epidemiológica observacional mundial sobre diferentes patologias — para estimar a prevalência de dor lombar entre 1990 e 2020 em mais de 200 países. Os dados mostraram que a lombalgia afetou 619 milhões de pessoas no planeta em 2020 e que, em 2050, serão cerca de 843 milhões. A maior prevalência padronizada por anos foi encontrada na Europa Central, especificamente na República Tcheca e na Hungria; a menor prevalência foi registrada nas Maldivas e em Mianmar.

Esse aumento nos próximos anos se deve, segundo Garland Culbreth, pesquisadora do Institute for Health Metrics and Evaluation da Universidade de Washington e autora do estudo, "às tendências de crescimento e envelhecimento populacional".

Como essa condição já era, segundo os autores, a primeira causa de incapacidade, os pesquisadores também mediram os anos vividos com incapacidade (YLD, por sua sigla em inglês). Este indicador reflete o impacto da doença — neste caso, dor lombar — na qualidade de vida e calcula que um YLD é um ano inteiro de vida saudável perdido devido a incapacidade ou problemas de saúde. Em 2020, observam os autores, houve 69 milhões de anos vividos com incapacidade devido à dor lombar, “e embora tenha havido uma ligeira diminuição desde 1990 na porcentagem de YLD por todas as causas em todo o mundo, a dor lombar ainda foi a principal contribuinte ao YLD em todo o mundo”, apontam.

Os cientistas verificaram que a prevalência global é maior nas mulheres do que nos homens em todas as faixas etárias, embora os anos pesem sobre a patologia: a prevalência de lombalgia e os anos vividos com incapacidade aumentam com a idade, sendo o grupo dos 80 aos 84 anos o com a maior taxa. De fato, um quinto dos idosos com dor lombar relatam dificuldades para cuidar de si mesmos em casa ou participar de atividades sociais e familiares.

Marcos Paulino afirma que a região lombar é "o calcanhar de Aquiles do ser humano, uma área muito sensível e que sofre com mais frequência".

— Cerca de 80% da população terá dor lombar em algum momento de suas vidas. O bom desse estudo é que ele quantifica e pode fazer com que transcenda a magnitude do problema — reflete.

Tabagismo, obesidade e trabalho

Os autores apontam o tabagismo, a obesidade e a falta de ergonomia no trabalho como os principais fatores de risco — embora não os únicos — que desencadeiam a dor lombar. O risco de dor lombar atribuído ao uso de tabaco foi maior entre os homens de meia-idade e menor entre as mulheres de 15 a 49 anos, enquanto a influência das posturas de trabalho foi mais forte entre os homens adultos jovens (15 anos a 49 anos) e menos em mulheres com mais de 70 anos. O risco de dor lombar por ter um alto índice de massa corporal foi maior em mulheres de 50 a 69 anos.

Manuela Ferreira, membro do grupo Sydney Muscoskeletal Health da Universidade de Sydney e autora do estudo, explica como o tabaco funciona:

— Fumar tem sido associado ao comprometimento da circulação nas estruturas da coluna vertebral, por exemplo, o disco e as articulações, assim como com o enfraquecimento dos ossos. Mas também sabemos que fumar está frequentemente associado a outros fatores do estilo de vida, como inatividade física, obesidade, falta de sono, todos associados a um risco aumentado de desenvolver dor lombar”.

A pesquisadora também aponta que um índice de massa corporal (IMC) alto "pode ​​estar ligado a outros fatores de estilo de vida pouco saudáveis ​​que podem aumentar o risco de dor lombar, mas também é possível que um IMC alto aumente a carga nas estruturas da coluna vertebral, predispondo-as a lesões". Sobre os fatores ocupacionais, Ferreira justifica seu papel:

— Fatores ocupacionais que podem contribuir para o risco de desenvolver lombalgia incluem levantar objetos pesados, ficar sentado ou em pé por muito tempo, dobrar e girar o tronco repetidamente, além de estresse e fadiga — detalha.

A alta prevalência desta doença em todo o mundo, alertam os pesquisadores, “pode ter consequências sociais e econômicas importantes, especialmente considerando o custo substancial dos cuidados para esta condição”. E dão um exemplo: de 2012 a 2014, os custos diretos para todas as pessoas com problemas de coluna nos Estados Unidos foram de 315 bilhões de dólares. Soma-se ao peso econômico do atendimento médico a essa patologia o impacto trabalhista: sua alta prevalência na população ativa causa afastamentos do trabalho e até aposentadoria prematura: "Nos Estados Unidos, 15,4% da força de trabalho registra uma média de 10,5 dias de trabalho perdidos por ano devido à lombalgia crônica”, exemplifica o estudo.

Drogas ineficazes

Os autores desconfiam da potencial eficácia de alguns medicamentos, observando que "paradoxalmente, o uso de tratamentos com pouca ou nenhuma eficácia pode retardar a recuperação e potencialmente aumentar o risco de incapacidade de longo prazo relacionada às costas e, consequentemente, aumentar a carga de esta doença globalmente".

— Muitos tratamentos atualmente oferecidos para controlar a dor lombar têm pouca, nenhuma ou eficácia desconhecida. Estes incluem analgésicos simples, como paracetamol, e fortes, como opioides, terapias físicas (tração, ultrassom, estimulação elétrica nervosa transcutânea) e muitos procedimentos cirúrgicos, como fusão cirúrgica. Quando essas opções são dadas para substituir tratamentos que melhoram os sintomas de dor lombar, como exercícios, intervenções psicológicas e aconselhamento estruturado, podem atrasar a recuperação — lamenta Ferreira.

Em destaque estão, sobretudo, os opioides contra a dor: na Austrália, por exemplo, essa classe de medicamentos é o remédio mais prescrito para lombalgia. Tendo como pano de fundo a gravíssima epidemia de opioides que varre os Estados Unidos, os pesquisadores lembram que esses remédios “são responsáveis ​​por eventos adversos significativos à saúde” e advertem contra seu uso.

— Esta estratégia é prejudicial não só porque os opiáceos estão associados a efeitos adversos graves, incluindo a morte por overdose, mas os benefícios dos opiáceos na melhoria da dor e função em doentes com lombalgia são, na melhor das hipóteses, modestos — pontua Ferreira.

Paulino admite que são necessários "tempo e recursos" para melhorar a resposta a esta patologia.

— Para enfrentar bem o problema, conhecer bem a doença, fazer exercícios ou aprender técnicas de relaxamento para lidar com a dor, é preciso tempo. E a gente vive numa sociedade tão acelerada que o paciente quer uma coisa rápida, um comprimido, porque tem que trabalhar ou voltar às suas atividades. A abordagem seria melhor se tivéssemos mais tempo e recursos — finaliza.

Mais recente Próxima Jovens removem umbigo por estética e tatuam em cima; médicos alertam que os riscos podem ser mortais: veja vídeo

Inscreva-se na Newsletter: Saúde em dia

Mais do Globo

Junior Santos marca o gol alvinegro, que leva a equipe aos 13 pontos

Botafogo vence o Corinthians em São Paulo e dorme na liderança

Casa onde família mora, no sul do Líbano, foi bombardeada

Ataque no Líbano deixa três brasileiros feridos, diz Itamaraty

Chang'e-6 pousou na imensa Bacia Aitken, uma das maiores crateras de impacto conhecidas no Sistema Solar

Sonda lançada pela China há quase um mês pousa na face oculta da Lua, diz mídia estatal

Tricolor deixa a zona de rebaixamento, mas segue em má fase no Brasileiro

Com falha feia de Fábio, Fluminense empata com o Juventude no Maracanã

Sorteios acontece às 20h, no Espaço da Sorte, em São Paulo, com transmissão ao vivo

Resultado Mega-Sena 2.731: Ninguém acerta as dezenas e prêmio acumula para R$ 95 milhões; veja números

Atacante do Al-Hilal se recupera de cirurgia no joelho esquerdo

Neymar acompanha final da Champions e parabeniza Vini Jr e Rodrygo: 'Meus meninos'

Cidade está em estado de alerta e registrou a temperatura mais baixa do ano nesta semana

São Paulo registra morte de dois moradores de rua após início do frio

Silvicultura é criticada por ambientalistas por degradar o solo e consumir alta quantidade de água

Governo sanciona lei que exclui plantação de celulose da lista de atividades poluidoras

Time espanhol chegou ao 15º título do torneio

Campeão da Champions: quanto o Real Madrid ganha em premiação?

O agente afirmou que reagiu a uma tentativa de assalto

Homem é morto a tiros por policial penal em Todos os Santos, na Zona Norte